AMERICANO
ou NORTE-AMERICANO?
Pelo visto, há muitos leitores
indignados.
Todos contestam a minha preferência por americano.
Afirmei aqui: “A seleção americana de basquete é a dos Estados
Unidos. Uma seleção norte-americana deveria incluir jogadores do Canadá e
do México”.
Você sabe por que quem nasce em Pernambuco é pernambucano, e não “pernambuquense”.
Por que quem nasce no Ceará é cearense, e não “cearano”?
O que eu sei é que existem
várias sufixos (-ano, -ense, -eiro, -ista, -ino…) para designar o lugar de
nascimento.
Paulista é quem nasce no estado
de São Paulo, e paulistano é quem nasce na cidade de São Paulo.
Seria convenção? Foi o uso que
consagrou?
A República Federativa do Brasil já foi “Estados Unidos do
Brasil”. Quem aqui nasce sempre foi brasileiro. Nunca fomos “estadunidenses”.
Quem nasce nos Estados Unidos
da América (USA=United State of America) pode ser estadunidense ou americano ou
norte-americano. Isso é o que dizem vários dicionários.
O adjetivo estadunidense na
prática não funciona. As duas formas mais usadas são americano e
norte-americano. Entre essas duas, prefiro americano.
Para mim, “norte-americano
corresponde ao nosso sul-americano”. Sei muito bem que americano também se
refere à América inteira. Entretanto, creio que não haveria confusão:
a) Se falarmos em “senado
americano”, só pode ser o dos Estados Unidos. Ninguém ficaria imaginando um
senado da América;
b) Se falarmos em “continente
americano”, tenho a certeza de que todos entenderiam a América, e não os
Estados Unidos.
No entanto, quando nos referimos
a um campeonato, devemos tomar certos cuidados:
a) Campeonato sul-americano
(=só América do Sul);
b) Campeonato norte-americano
(=só América do Norte);
c) Campeonato americano (=só
Estados Unidos);
d) Campeonato pan-americano
(=as três Américas).
Eu entendo perfeitamente os
argumentos dos meus leitores e agradeço a contribuição.
É importante, porém, que fique
bem claro: não estou afirmando que estadunidense ou norte-americano estejam
errados. É uma questão de preferência, pois no meio jornalístico é comum haver
uma espécie de padronização. Não quero impor coisa alguma, apenas opinar.
ESCREVE-SE ou ESCREVEM-SE cartas?
Leitor tem razão ao afirmar que
esse tipo de erro de concordância é frequente e que, num contexto popular,
seria aceitável. Na verdade, ele critica a inadequação: o fato de uma
professora ter cometido tal erro.
Estamos chamando de erro porque
está em desacordo com o que diz a maioria dos nossos gramáticos. Quando a
partícula “se” é apassivadora, o verbo deve concordar com o sujeito passivo:
“Escrevem-se cartas” (=Cartas são escritas); “Alugam-se apartamentos”
(=Apartamentos são alugados); “Consertam-se sapatos e bolsas” (=Sapatos e
bolsas são consertados)…
Em textos formais e em
concursos, é essa a concordância que devemos seguir.
Hoje É ou SÃO 26 de junho?
Leitores querem saber qual é o
certo.
Um deles pergunta: “No caso a palavra hoje não é o sujeito da oração? O verbo não
deveria concordar com o sujeito no singular: Hoje é 26 de junho? E na pergunta? O correto é que
dia é hoje? Ou que
dia são hoje?”
Na pergunta, não há discussão. Sempre devemos usar o verbo ser no singular: “Que dia é hoje?”
Quanto à resposta, há polêmica. Alguns autores defendem a tese
de que o verbo ser deva concordar com a expressão
numérica. Da mesma forma que “são 16h”, deveríamos usar “Hoje
são 26 de junho”. A
verdade, entretanto, é que poucos falam desse modo. A maioria diz que “Hoje
é 26 de junho”. O uso
do verbo no singular está consagrado e muitos autores já registram tal
concordância. A explicação para a concordância no singular seria a elipse da
palavra DIA: “Hoje é (dia) 26 de junho”.
Se você quer evitar a polêmica, basta dizer que “Hoje
é dia 26 de junho”. Aí…não
há discussão.
O saldo do acidente FOI ou FORAM duas vítimas?
Leitor quer saber se o verbo não deveria estar no singular para
concordar com o sujeito: “O saldo do acidente foi…”
O verbo SER sempre merece cuidados especiais, pois, em algumas
situações, pode concordar com o predicativo do sujeito. No exemplo acima, o sujeito
(=o saldo do acidente) está no singular, e o predicativo (=duas vítimas) está
no plural. Entre o singular e o plural, o verbo ser concorda no plural:
“Estes dados
são parte de
um relatório confidencial.”
“O resultado da pesquisa são números assustadores.”
Portanto, a concordância da frase: “O saldo do acidente foram
duas vítimas” está correta.
O que mais me incomoda nessa
frase é a mania de tratar vítimas de acidente como “saldo”. Na minha opinião, é
um modismo de imenso mau gosto.
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