Mais uma vez, leitores do G1 criticam a
posição intransigente de algumas bancas organizadoras de concursos. Hoje é a
vez de Alberto José Rodrigues Coré, de Nova Iguaçu, Rio de Janeiro. Vejamos o
que ele nos escreveu:
“Eu e vários candidatos estamos
sendo prejudicados por essa prática no concurso Petrobrás 02-2010, no qual não
foi anulada uma questão. Foram enviadas dezenas de recursos, em que se
utilizavam, em sua maioria, as dicas aqui postadas pelo prof. Sérgio Nogueira.
A questão é simples. A
Cesgranrio afirma que existe a palavra “paisezinhos”, e o prof. Sérgio
Nogueira, numa das suas Dicas aqui no G1, afirma que o plural correto é
PAISINHOS. Nos recursos, foram apresentadas outras fontes, mas a Cesgranrio não
anulou a questão.
Em todas as pesquisas feitas,
não achei nada que justifique o plural “paisezinhos”. Temos também o apoio de
um site especializado em gramática e em correção de provas de concursos, que
também afirma que a tal questão deveria ser anulada.”
Vamos aos fatos.
Para a formação do plural de
palavras no diminutivo, temos duas regrinhas:
1ª) Com o sufixo –INHO, basta pôr a desinência “s”:
livro+inho = livrinho > livrinhos;
caixa+inha = caixinha > caixinhas;
2ª) Com o sufixo –ZINHO, devemos pluralizar a palavra primitiva,
cortar o “s” e colocá-lo no final:
papel+Zinho > papei(s)+Zinho+s = papeizinhos;
balão+Zinho > balõe(s)+Zinho+s = balõezinhos.
No caso de PAISINHO, devemos
aplicar a primeira regra, pois o sufixo é –INHO (país+inho = paisinho). Assim
sendo, o plural correto é PAISINHOS. Assim como acontece com casa+inha =
casinhas; lápis+inho = lapisinhos.
O plural “paisezinhos” é um
equívoco, que eu próprio o cometi nos meus primeiros livros, mas isso já foi
corrigido há muito tempo. Se aceitarmos “paisezinhos”, teremos de aceitar
também “lapisezinhos”, “tenisezinhos” e outras aberrações.
O que mais me impressiona no
caso é o radicalismo dos componentes da banca da Cesgranrio. Isso me espanta,
pois conheci aquela casa na década de 80, quando lá prestei alguns serviços.
Também me causa espanto a
“gramatiquice” cobrada na prova. Não que eu seja contrário às questões que
envolvam aspectos gramaticais.
Não defendo a velha gramática
normativa, mas também não sou professor do tipo que aceita tudo ou qualquer
coisa. A moderação sempre me fez bem. Detesto radicalismos, seja de direita ou
de esquerda. Sempre fui contra os concursos que só cobravam gramática como se
isso medisse a capacidade do candidato de escrever e de compreender o que lê.
Sempre defendi a produção de texto, as questões de interpretação e de
compreensão de texto, mas nunca fui contra a presença de questões que
envolvessem aspectos gramaticais práticos, como ortografia, concordância, uso
do acento indicativo da crase, uso dos verbos e dos pronomes…
Nas minhas Dicas de Português,
publicadas aqui no G1, só fui radical num aspecto: a presença de questões
polêmicas em nossos concursos. Isso é covardia. O candidato não precisa saber
que o autor A aceita um plural e que o autor B aceita duas formas de plural. É
uma questão subjetiva, pois professores, estudiosos, mestres e até doutores têm
o direito de divergir, de ver a língua portuguesa sob ângulos diferentes.
Sejamos mais flexíveis. Não
apenas na visão da nossa língua, mas, principalmente, na vida.
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