De tempo em tempo, sou obrigado a voltar ao
assunto. É humanamente impossível responder a todas as perguntas que são
enviadas para esta coluna. O interesse dos meus leitores me deixa felicíssimo,
mas, ao mesmo tempo, fico muito chateado por não poder atender a todos.
Como já disse aqui, são mais de
100 perguntas por mês. É importante lembrar que o G1 não está oferecendo um
serviço de “tira-dúvidas” pela internet, como alguns leitores imaginam. Para
nós, as dúvidas são contribuições para esta coluna. A seleção é feita
obedecendo a alguns critérios. O primeiro, obviamente, é que eu saiba responder
ou, pelo menos, tenha uma opinião a respeito. Também damos preferência a
perguntas de interesse mais amplo. Perguntas muito específicas geralmente ficam
“na reserva”. Outro critério é o da “repetição”. É aquela pergunta que volta
com certa frequência.
Para “aplacar a ira” de alguns
leitores, selecionei para hoje algumas perguntas que me permitiram respostas
curtas. Estão de volta as “rapidinhas”:
1a) “Devemos mesmo escrever todas as palavras com o
“mini” incorporado à palavra ou separado sem hífen ou com hífen?”
Segundo o novo acordo
ortográfico, só há hífen quando MINI antecede palavras iniciadas por H ou vogal
igual (i): mini-hospital, mini-internato…
Nos demais casos, o elemento
“mini” deve ser usado sempre “junto”, sem hífen: minissaia, minissérie,
miniusina, minirreator, minidesvalorização, minibar, minienvelopes,
minipãezinhos…
2a) “Noventa por cento do paisagismo, desenhado por
Roberto Burle Marx, já foi
restaurado. O correto não seria já foram restaurados?”
A concordância com as percentagens é um tema bastante polêmico.
Há quem prefira a concordância com o número percentual: “Noventa por cento do paisagismo foram
restaurados”; e aqueles que preferem a concordância com o
especificador: “Noventa por cento do paisagismo foi restaurado”.
Não é, portanto, uma questão de certo ou errado. É uma questão mais de estilo
ou preferência. A minha constatação é que hoje há uma visível preferência pela
concordância com o especificador: “Sessenta por cento da
população já foi vacinada”, “Um por cento das
crianças foram vacinadas”.
3a) “Está certo dizer ‘tenho soltado todos os pássaros engaiolados
que encontro’ e ‘o delegado havia soltado ontem esse
ladrão’?”
Está corretíssimo. Para os verbos que apresentam particípios
abundantes (=solto e soltado, aceito e aceitado, entregue e entregado, suspenso
e suspendido…), devemos adotar a seguinte regra: a) com os verbos ter e haver, devemos usar a
forma regular terminada em “-ado” ou “-ido”: “tinha ou havia soltado os pássaros”, “havia aceitado o convite”, “tinha entregado os documentos”, “tinha ou havia suspendido os jogadores”… b) com os
verbos ser ou estar, devemos usar a
forma irregular: “os pássaros foram soltos”, “o convite foi
aceito”, “os documentosserão
entregues”, “os jogadores estavam suspensos”…
4a) “Já vi escrito num livro de português adeqúo e
argúo. Acredito na existência dessas formas, pois, em certas situações, não há
outra opção.”
Rigorosamente, o verbo adequar é defectivo, ou seja, não apresenta
algumas formas. Para a maioria dos estudiosos não existe a forma “adeqúo”. A solução é
substituir por um verbo sinônimo ou expressão equivalente: em vez de “eu me
adeqúo à atual situação”, poderia ser “eu já estou adequado à atual situação”
ou “estou me adequando à atual situação”.
O verbo arguir não é defectivo. A 1ª pessoa do singular do presente do
indicativo é “eu arguo”. O detalhe é que não há acento agudo na vogal “u”,
embora a sílaba tônica seja a penúltima (=”gu”). Devemos pronunciar “arguo”.
PÊGO, PEGO ou PEGADO?
Dúvida do leitor: “Na minha
juventude nunca ouvi alguém falar que “foi pêgo”. Agora, a TV (Rio e São Paulo
passam o tempo falando essa asneira. Até o jornal que se acha o melhor do país,
que é a F. São Paulo, caiu nessa). Sob a minha óptica, respaldado no Caldas
Aulete e no Delta Larouse, pêgo é uma ave. Para mim, o Aurélio é um dicionário
popular da língua portuguesa. É bom tê-lo para tirar dúvidas, mas com visão
crítica.”
Meu caro leitor, eu também aprendi na minha juventude que o
particípio do verbo pegar era somente pegado:
“Ele tinha pegado os documentos”, “Ele foi pegado em flagrante”.
O problema é que as línguas são
vivas, elas evoluem, elas se transformam. E isso não é um fenômeno exclusivo da
língua portuguesa. O difícil é estabelecer um critério para aceitar ou não as
novidades linguísticas.
Entretanto é fato que a forma pego (“pêgo” em algumas regiões e “pégo” em
outras) está consagradíssima. Hoje há registros em várias obras da nossa
literatura e nos estudos de muitos especialistas.
Sugiro que você, meu caro leitor, não sofra tanto, senão terá
que procurar algum cardiologista. Que fique bem claro: se usarmos a forma pegado,
estamos falando corretamente. Quanto à formapego,
é perfeitamente aceitável na fala coloquial e discutível em textos que exijam o
chamado padrão culto da nossa língua. Inaceitável é exigir que o candidato ao
vestibular, por exemplo, saiba se o gramático Fulano de Tal considera a
forma pego “certa”
ou “errada”.
POR QUE ou POR QUÊ?
Pergunta de leitor: “Reforma
Agrária, por que? ou Reforma Agrária, por quê?”
Segundo as nossas regras ortográficas, a palavra que,
no fim da frase, interrogativa ou não, torna-se tônica. Daí a necessidade do
acento circunflexo: “Reforma Agrária, por quê?”
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