Leitor solicita que eu faça um rápido
comentário a respeito de cada exemplo a seguir.
1.“…mais um acidente com vítima fatal.”
FATAL é “o que provoca a
morte”. Portanto, não é a vítima que é fatal. FATAL é o acidente. “Vítima
fatal” está consagrada pelo uso e, hoje, perfeitamente compreensível.
2. “Os vencimentos serão pagos numa parcela
única.”
“Parcela única” é muito
estranho. PARCELA é “pequena parte de qualquer coisa”. Rigorosamente, “pequenas
parcelas” pode ser uma redundância e “parcela única” seria incoerente.
3. “Queremos reaver o prejuízo.”
Duvido que alguém queira o
prejuízo de volta. Queremos é ser indenizados pelo prejuízo.
Não sejamos, entretanto, tão rigorosos com a língua portuguesa,
a expressão “correr atrás do prejuízo”,
embora incoerente, é perfeitamente compreensível.
4. “O secretário explicou ontem por que deixou o
cargo.”
Se tinha deixado o cargo no dia
anterior, não era mais secretário.
Portanto, “o ex-secretário
explicou ontem por que deixou o cargo”.
5. “Se o atacante for regularizado pela Federação…”
Não é o atacante que deve ser
regularizado. A situação do jogador é que deve ser regularizada pela Federação.
Leitor tem razão em parte. Nossa língua não é tão lógica como muitos pensam. O
subentendido faz parte da nossa linguagem. Não sejamos tão rigorosos.
6. “Ninguém se feriu no desabamento, com exceção
do porteiro.”
Para que o porteiro não se
sinta pior que “ninguém”, seria melhor ter escrito: “Somente o porteiro se
feriu no desabamento”. Concordo com o leitor. Frase de muito mau gosto.
7. “O Pão de Açúcar é quase 20 vezes menor que o Aconcágua.”
É impossível ser “20 vezes
menor”. É um problema matemático. O contrário de “3 vezes mais” é “um terço”.
Na verdade, “o Aconcágua é 20 vezes maior que o Pão de Açúcar”.
8. “Ao
contrário do que foi
publicado ontem, Romário fez dezoito e não dezessete gols…”
Dezoito e dezessete não são
coisas contrárias. Portanto, o mais adequado é dizer: “Diferentemente do que
foi publicado ontem…”
9. “Um homem se afogou e foi tirado do mar desacordado.”
Ou se afogou ou estava
desacordado. Se houve afogamento, o homem estava morto; se foi tirado do mar
desacordado, o homem quase se afogou.
10. “O filho fez curso de técnico de som até se tornar um nome de referência na
área.”
Isso é que é força de vontade.
Não largou o curso enquanto não ficou famoso. Para ficar claro: o rapaz fez um
curso de técnico de som e tornou-se famoso na sua área. Ficou famoso depois de
fazer o curso, e não “fez o curso até ficar famoso”.
Fui eu QUEM FEZ ou Fui eu QUE FIZ?
Tanto faz.
O verbo pode concordar com o
pronome QUEM (=quem fez) ou com o antecedente do pronome QUE (=eu que fiz).
Vamos observar o exemplo que um leitor nosso encontrou no livro Memorial
do Convento do grande
escritor português José Saramago: “…são eles quem está construindo a obra que
lhe vou mostrar…”
Nesse caso, embora o
antecedente esteja no plural, o autor faz o verbo concordar com o pronome QUEM:
“…eles quem ESTÁ construindo…”
Corretíssimo.
Pode-se tornar OU pode se tornar?
Leitor nos escreve: “Na versão eletrônica do Estadão, lia-se a
seguinte frase ‘Corinthians pode-se tornar campeão domingo’. Não sei se se trata
de um erro de impressão ou, pior ainda, de gramática, mas parece-me que a frase
é incorreta.”
A frase pode perecer estranha, mas não está errada. Trata-se de
uma ênclise do verbo auxiliar (=pode-se tornar). Essa colocação do pronome
átono após o verbo auxiliar é raríssima no português do Brasil. A maioria dos
brasileiros diria “Corinthians pode se tornar…” (sem
hífen = próclise do verbo principal).
Eu prefiro a ênclise do infinitivo: “Corinthians pode
tornar-se campeão no
domingo”.
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