O uso
do ponto e vírgula
O ponto e vírgula indica uma
pausa maior que a vírgula.
Vejamos as situações em que o
seu emprego é mais frequente:
1a) para separar os membros de um período longo,
especialmente se um deles já estiver subdividido por vírgula:
“Na linguagem escrita é o
leitor; na fala, o ouvinte.”
“Nas sociedades anônimas ou
limitadas existem problemas: nestas, porque a incidência de impostos é maior;
naquelas, porque as responsabilidades são gerais.”
2a) para separar orações coordenadas adversativas
(=porém, contudo, entretanto) e conclusivas (=portanto, logo, por conseguinte):
“Ele trabalha muito; não foi,
porém, promovido.” (indica que a primeira pausa é maior, pois separa duas
orações)
“Os empregados iriam todos; não
havia necessidade, por conseguinte, de ficar alguém no pátio.”
3a) para separar os itens de uma explicação:
“A introdução dos computadores
pode acarretar duas consequências: uma, de natureza econômica, é a redução de
custos; a outra, de implicações sociais, é a demissão de funcionários.”
4a) para separar os itens de uma enumeração:
“Deveremos tratar, nesta
reunião, dos seguintes assuntos:
a) cursos a
serem oferecidos, no próximo ano, a nossos empregados;
b) objetivos
a serem atingidos;
c)
metodologia de ensino e recursos audiovisuais;
d) verba
necessária.
Se dirigir, não beba; se beber, não dirija.
Em frente ao Hospital Pinel, no
Rio de Janeiro, havia um painel luminoso da CET-Rio. Lá estava a seguinte
mensagem:
“Se dirigir; não beba
se beber; não dirija”
Certamente o hospital não tem
culpa alguma. Louco ou bêbado estava quem escreveu a tal frase. Não pela
mensagem em si, mas pela pontuação da frase. Provavelmente alguém disse para o
autor: “Olha, tem um ponto e vírgula aí.” E o “letrado”, por garantia, tascou
logo dois.
Ora, onde encontramos o ponto e
vírgula bastaria a vírgula, pois se trata de uma oração subordinada adverbial
condicional deslocada: “Se dirigir, não beba”. O ponto e vírgula seria perfeito
entre as duas ideias, apontando, assim, uma pausa maior que a vírgula:
“Se dirigir, não beba; se
beber, não dirija.”
É essa uma das utilidades do
ponto e vírgula: indicar uma pausa maior que a vírgula e não tão forte quanto o
ponto-final.
Portanto, o autor da frase
acaba de perder três pontos na sua carteira de habilitação, por uma infração
média contra a gramática.
Depois que grandes escritores
já confessaram que não têm segurança para usar o ponto e vírgula, não serei eu
o louco que vai considerar o mau uso do ponto e vírgula uma infração
gravíssima, a menos que isso prejudique os aposentados…
Mais ponto e vírgula
Alguns leitores insistem em
perguntar a respeito do “ponto e vírgula da Previdência”.
Afinal, está certo ou errado?
Quanto ao uso do ponto e
vírgula, a frase está correta. O problema é a interpretação.
Primeiro, vamos lembrar a tal
frase que está no artigo 201 da reforma da Previdência:
“…é assegurada a aposentadoria
no regime geral de Previdência Social, nos termos da lei, obedecidas as
seguintes condições: 35 anos de contribuição, se homem e 30 anos, se mulher; 65
anos de idade, se homem e 60 anos, se mulher…”
Segundo alguns juristas, o
ponto e vírgula após a palavra mulher teria a função de um “e”, tornando as
exigências cumulativas. Para outros, o ponto e vírgula teria uma ideia de
exclusão, ou seja, anos de contribuição ou anos de idade. As exigências não
seriam cumulativas.
A interpretação de que as
exigências são cumulativas (=ideia aditiva) é a mais provável. Numa enumeração,
geralmente o ponto e vírgula tem valor aditivo (=e). Entretanto, o ponto e vírgula
permite outras interpretações. Na frase “Se dirigir, não beba; se beber, não
dirija”, o ponto e vírgula tem valor de “ou”.
Dizer que o ponto e vírgula tem
sempre o valor aditivo(=que é sempre igual a “e”) é no mínimo uma afirmativa
perigosa.
Na verdade, faltou clareza ao
texto, o que é inconcebível na redação de uma lei.
Se a intenção do autor do texto fosse realmente deixar clara a
ideia de exigências não cumulativas, deveria ter substituído o ponto e vírgula
pela conjunção alternativa “ou”: “…obedecida uma das seguintes condições: 35
anos de contribuição, se homem e 30 anos, se mulher ou 65 anos de idade, se homem e 60 anos,
se mulher…”
Se, ao contrário, a ideia fosse de exigências cumulativas, o
autor, em nome da clareza, poderia usar o “amado” ponto e vírgula desde que
fizesse uma nova redação: “…obedecidas as seguintes condições: 35 anos de
contribuição e 65 anos de idade, se homem; 30 anos de
contribuição e 60 anos de idade, se mulher…”
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