Uma boa redação: a CONCISÃO
Ouço muito: um bom texto deve ser claro e conciso.
Não há dúvida de que a clareza é a principal qualidade do texto. Ser
conciso, entretanto, é uma luta muito árdua.
Ser conciso é dizer o necessário com o mínimo de palavras, sem
prejudicar a clareza da frase. É ser objetivo e direto.
E aqui está a nossa dificuldade. Nós, brasileiros, estamos habituados a
falar muito para dizer pouco, a escrever mais que o necessário, a discursar
mais para impressionar do que comunicar.
Para muitos, esse hábito começa na escola. É só fazer uma “sessão
nostalgia” e voltarmos aos bons tempos de colégio, às gloriosas aulas em que o
professor anunciava: “hoje é dia de redação”. Você se lembra da “alegria” que
contagiava a turma? Você se lembra de algum coleguinha que dizia estar
“inspirado”? Você se lembra de algum tema para a redação que tenha deixado toda
a turma satisfeita? A verdade é que não aceitávamos tema algum. Pedíamos outro
tema. Se o professor apresentasse vários temas, pedíamos “tema livre”. E se
fosse “tema livre”, exigíamos um. Era uma insatisfação total. Depois de muita
briga, o tema era “democraticamente imposto”. E aí vinha aquela tradicional
pergunta: “Quantas linhas?” A resposta era original: “No mínimo 25 linhas”. Eu
costumo dizer que 25 é um número traumático na vida do aluno. A partir daquele
instante, começava um verdadeiro drama na sua vida: “Meu reino pela 25ª linha”. Valia tudo para se chegar lá. Desde as ridículas letras que
“engordavam” repentinamente até a famosa “encheção de linguiça”.
E aqui pode estar a origem de tudo. Nós nos habituamos a “encher
linguiça”. Pelo visto, há políticos que fizeram “pós-graduação” no assunto. São
os mestres da prolixidade. Falam, falam e não dizem nada. Em algumas situações
não têm o que dizer, às vezes não sabem explicar e muitas vezes precisam
“enrolar”.
O problema maior, entretanto, é que a doença atinge também outras
categorias profissionais.
Vejamos três exemplos retirados de bons jornais:
1. “A largada será no
Leme. A chegada acontecerá no mesmo local da partida.”
Cá entre nós, bastava ter escrito: “A largada e a chegada serão no
Leme.”
1. “O procurador
encaminhou ofício à área criminal da Procuradoria determinando que seja
investigado…”
Sendo direto: “O procurador mandou investigar”.
1. “A posição do
Governo brasileiro é de que esgotem todas as possibilidades de negociação para
que se alcance uma solução pacífica.”
Enxugando a frase: “O Brasil é a favor de uma solução pacífica”.
À TOA ou À-TOA?
Antes do novo acordo ortográfico era assim:
a) À TOA = “a esmo, ao acaso, sem fazer nada” (locução
adverbial de modo = refere-se ao verbo): “Passou a vida à toa”; “Anda à toa
pelas ruas”;
b) À-TOA = “inútil, desprezível, desocupado,
insignificante” (adjetivo = acompanha um substantivo): “Era uma mulher à-toa”;
“Não passava de um sujeitinho à-toa”.
Com o novo acordo ortográfico, não devemos mais usar o hífen nesse caso.
Assim sendo, a forma adjetiva não tem mais hífen: “mulher à toa”; “sujeitinho à
toa”, “probleminha à toa”…
MUITO ou MUITA pouca comida?
O certo é “MUITO POUCA comida”.
1o) “POUCA comida” – POUCA é um pronome adjetivo indefinido
porque acompanha um substantivo (=comida). Os pronomes concordam em gênero e
número com o substantivo a que se referem: “poucas pessoas”; “muita saúde”;
“tantos livros”; “provas bastantes”…
2o) “MUITO pouca comida” – MUITO é um advérbio de intensidade
pois se refere ao pronome adjetivo (=pouca), e não ao substantivo. Os advérbios
não apresentam flexão de gênero e número: “Elas estão muito satisfeitas”; “Os
jogadores estão pouco confiantes”; “As alunas ficaram bastante felizes”…
O DESAFIO
As dúvidas são:
1ª) VENDE-SE ou VENDEM-SE estas casas ?
2ª) Da 1a A ou À 5ª série ?
3ª) Seja BENVINDO ou BEM-VINDO ?
4ª) ADQUIRI-LOS ou ADQUIRÍ-LOS ?
Respostas:
1ª) VENDEM-SE estas casas. (No plural para concordar com o sujeito
“estas casas” = “Estas casas são vendidas”);
2ª) Da 1ª À 5ª série. (Com crase = preposição “a” + artigo “a” que define a 5ª série);
3ª) Seja BEM-VINDO. (O novo Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa
já registra a forma “benvindo” como variante linguística);
4ª) ADQUIRI-LOS. (Sem acento agudo).
Existem AONDE (=quando você vai
“a” algum lugar) e PARA ONDE (=quando você vai “para” algum lugar):
“Ipanema é a praia AONDE ela
vai em todos os fins de semana.” (=Ela vai à praia);
“São Paulo é a cidade PARA ONDE
ele foi transferido.” (=Ele foi transferido para São Paulo).
1ª) Ver O jogo (VER é verbo transitivo direto);
2ª) Assistir AO jogo (ASSISTIR, no sentido de “ver”, é
transitivo indireto).
3ª) A RESPEITO DE (Não há crase
antes de palavra masculina).
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