SERÁ
VERDADE?
Passeia pela internet uma nova lista de “asneiras
jornalísticas”. Não tem paternidade (como sempre) e as frases são atribuídas à
imprensa portuguesa, o que não é verdade. Eu já conhecia metade dos casos. São
quase os mesmos de outra lista que já foi parcialmente apresentada aqui na Aula
Extra. Naquela lista, os exemplos eram atribuídos a jornais
cariocas.
A falta de paternidade acaba
permitindo afirmações duvidosas e imprecisas. Eu nem acredito que todas as
frases da lista tenham sido publicadas por algum jornal, mas não deixam de ser
interessantes. No mínimo, valem pela criatividade dos seus autores.
Vejamos:
1) “Parece
que ela foi morta pelo seu assassino.”
Ainda bem que não tem certeza!
2) “O
acidente pode ter sido no tristemente célebre retângulo das Bermudas.”
Não sei se é uma dívida
geométrica ou geográfica…
3) “O
acidente fez um total de um morto e três desaparecidos. Teme-se que haja
vítimas.”
É que as vítimas não devem ser
parentes de quem escreveu.
4) “O
acidente provocou uma forte comoção em toda a região, onde o veículo era bem
conhecido.”
Era um “veículo” bem popular,
muito querido na região. Será julgado pelo Departamento de Trânsito e, se
condenado, ficará preso no depósito municipal.
5) “Quatro
hectares de trigo foram queimados. A princípio, trata-se de um incêndio.”
Só a princípio. No fim, vão
descobrir que foi enchente.
6) “O aumento
da inflação foi de 0% em novembro.”
Foi um aumento semelhante ao do
salário mínimo.
7) “O
presidente de honra é um septuagenário de 81 anos.”
Pior é aquele que pensa que
sexagenário é o velhinho que ainda faz sexo.
8) “Ferido no
joelho, ele perdeu a cabeça.”
E ficou de cabelo em pé.
9) “As
circunstâncias da morte do chefe de iluminação permanecem bastante obscuras.”
Porque as provas do crime já
foram enterradas.
10) “A conferência sobre prisão
de ventre foi seguida de um farto almoço.”
Logo após, houve uma grande
corrida aos banheiros. Assim, foi possível pôr em prática as técnicas
aprendidas na conferência.
11) “É uma bela peça musical,
de onde parecia exalar toda a fria tristeza da estepe gelada. Foi executada com
um calor magistral.”
Metade da orquestra ficou
resfriada devido à violenta variação de temperatura.
12) “Apesar de a meteorologia
estar em greve, o tempo esfriou ontem intensamente.”
O sindicato dos meteorologistas
ficou decepcionado com o tempo que não aderiu ao movimento de paralisação.
13) “Os quatro artistas formam
um trio de talento.”
Deve ser o famoso quarteto
“Trio los dos”, no qual cantava “solamente yo”.
Não sei distinguir entre o que
foi realmente publicado e o que foi inventado. Importante é que diverte um
pouco.
O próximo exemplo, porém, é
verdadeiro. Um portal de notícias informou: “Bombeiro ajuda grávida a dar à luz
por telefone”. É lógico que a ajuda é que foi por telefone, mas dar à luz por
telefone poderia ser “algum avanço da ciência”…
O último caso ninguém me
contou. Eu ouvi muito bem. Aconteceu há muito tempo numa transmissão de um jogo
da seleção brasileira de futebol de areia, ou de “beach soccer” como preferia o
comentarista que soltou a “pérola”: “O Neném começou a correr mais com a
entrada do Júnior Negrão atrás”. E ele queria o quê?
CRÍTICA DO LEITOR
“Gostaria de chamar atenção
para o correto sentido da palavra DESCRIMINAR, que na sua coluna foi explicada
como “inocentar de um crime”. Inocentar é absolver. DESCRIMINAR significa
“deixar de considerar crime um determinado ato que hoje é considerado como
tal”. Portanto, correto não seria “o projeto queria descriminar o usuário de
maconha”, e sim o projeto queria “descriminar o uso da maconha”.
O nosso leitor tem razão. Se
prezamos o uso preciso das palavras, devemos “descriminar o uso, e não o
usuário”.
Caso semelhante ocorre com o
verbo CASSAR (=anular). Não se “cassa o prefeito”. O que se cassa é o mandato
do prefeito.
DÚVIDA DO LEITOR E MINHA
ENFEZADO = CHEIO DE FEZES?
“Costuma-se usar a expressão
ENFEZADO, quando queremos falar do nosso estado de aborrecimento. Não há
nenhuma outra menção no Aurélio, mas fico me perguntando se a construção da
palavra tem alguma relação com intestino cheio, prisão de ventre, que também
nos dá o mesmo estado de ânimo, ou seja, nos deixa irritados, aborrecidos,
ENFEZADOS. Alguma relação?”
Não é a primeira vez que ouço
falar dessa história: ENFEZADA estaria a pessoa com prisão de ventre, ou seja,
cheia de FEZES. Pode até ser verdade, mas os nossos dicionários não mencionam
essa possível relação.
Só registram ENFEZADO como
“aborrecido, irritado”.
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