O uso
do pronome CUJO
Muita gente quer saber onde
está o dito “cujo”.
Caro leitor, não se assuste nem fique imaginando “coisas”. A
verdade é que recebi dezenas de mensagens querendo “notícias” do pronome
relativo CUJO.
Tenho um colega que costuma dizer que o pronome CUJO é um ser “semimorto”.
Segundo ele, só existe na língua escrita. Todos entendem o sentido de uma frase
em que apareça o pronomeCUJO,
mas ninguém se lembra dele na hora de falar.
Isso se comprova na fala do brasileiro. Observe a si mesmo e depois
me diga se não é verdade. Você falaria, por exemplo, no seu dia a dia, uma
frase do tipo “Estava falando com o vizinhoCUJO filho foi contratado pelo Flamengo”?
Acredito que todos entenderiam a frase, mas que dificilmente
seria usada na fala coloquial. Na verdade, a presença do pronome CUJO caracteriza o uso formal da língua
portuguesa. Praticamente só é usado na linguagem escrita.
O curioso, entretanto, é que
todos ou quase todos entenderiam a frase, ou seja, que “eu estava falando com o
vizinho e que o Flamengo contratou o filho desse vizinho”.
Vamos, então, responder
concretamente às perguntas do leitores:
1o) Só podemos usar o pronome CUJO quando existe uma relação de “posse”
entre o antecedente e o substantivo subsequente. O “vizinho cujo filho” significa
“o filho do vizinho (=o filho dele, o seu filho)”.
2o) Jamais usamos artigo definido entre o pronome CUJO e o substantivo subsequente. Falar
“vizinho cujo o filho” está errado. O pronome CUJO sempre concorda em gênero e número com
o subsequente: “vizinho CUJA FILHA,
CUJOS FILHOS, CUJAS FILHAS“.
3o) O pronome relativo CUJO deve vir antecedido de preposição,
sempre que a regência dos termos da 2ª oração exigir:
“Este é o vizinho DE cujo filho ninguém gosta.”
(O verbo GOSTAR é transitivo indireto = GOSTAR
DE alguma coisa –
“Ninguém gosta DO filho do vizinho”)
“Este é o vizinho EM cujos filhos todos confiam.”
(CONFIAR EM = “Todos confiam NOS filhos do vizinho”)
“Este é o vizinho A cujos filhos fizemos mil elogios.”
(=”Fizemos mil elogios AOS filhos do vizinho”)
“Este é o prefeito COM cujas ideias não concordamos.”
(=”Não concordamos COM as ideias do prefeito”)
“Este é o prefeito CONTRA cujas ideias sempre lutamos.”
(=”Sempre lutamos CONTRA as ideias do prefeito”)
Você está achando tudo muito estranho? Que o CUJO é muito feio?
Tudo bem, eu respeito a sua
opinião. Mas não esqueça: nem tudo que é feio ou estranho está errado.
INTERVIR ou INTERVIER?
Não devemos confundir o INFINITIVO dos verbos (=INTERVIR) com o FUTURO
DO SUBJUNTIVO (=INTERVIER).
Use o seguinte “macete”:
Quando o verbo vier antecedido de preposições (=A, DE, PARA…),
use o INFINITIVO:
“Ele foi obrigado A INTERVIR no caso.”
“Ele foi proibido DE INTERVIR no caso.”
“Ele tomou esta decisão PARA INTERVIR no caso.”
Quando o verbo vier antecedido das conjunções (=SE ou QUANDO) ou
do pronome QUEM, use oFUTURO
DO SUBJUNTIVO:
“SE o presidente INTERVIER no caso, poderá haver protestos.”
“QUANDO o presidente INTERVIER no caso, o problema será
solucionado.”
“QUEM não INTERVIER no
caso será duramente criticado.”
Leitor aponta um erro
jornalístico:
“O partido tem uma histórica dissidência de 20 votos, que poderá
se ampliar, sobretudo na bancada de Minas Gerais, se o governador não intervir nas discussões”.
O leitor tem razão. O certo é “…SE o
governador não INTERVIER nas discussões”.
Quando eu VIR ou VER?
Leitor quer saber qual é a forma correta: “Quando eu VIR ou VER uma amiga, falarei com ela.”
A presença da conjunção subordinativa temporal QUANDO indica que devemos usar o verbo VERno FUTURO
DO SUBJUNTIVO. E aqui está o problema: VER é INFINITIVO. O FUTURO
do SUBJUNTIVO do
verbo VER é:
Quando eu VIR, tu VIRES,
ele VIR, nós VIRMOS, vós VIRDES e eles VIREM.
Portanto, o certo é: “Quando eu VIR uma amiga, falarei com ela.”
Observe outros exemplos:
“SE vocês VIREM a verdade, ficarão surpresos.”
“Devolverei o documento, QUANDO nos VIRMOS novamente.”
Dedicação A ou À você?
Leitor quer saber a minha opinião a respeito da crase na frase
de uma antiga propaganda: “Casas XYZ. Dedicação à você e respeito ao Brasil…”
Antes de “você”, jamais haverá
crase, pois não há artigo definido.
Eu tenho respeito “a você”, e
as Casas XYZ prometem “dedicação a você”.
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