Meus
amigos do sul estão querendo testar o meu grau de “gauchês” ou, como disse um
mais mordaz, até onde eu já “acarioquei” e perdi minhas raízes.
Outro dia, falei aqui a respeito do meu “neurônio remanescente” e afirmei que a
velhice tem dois sintomas: tenho a certeza de que o primeiro é a falta de
memória; do segundo ainda não consegui me lembrar.
Estou “levemente” desconfiado
de que estão me chamando de velho, por isso resolveram testar a minha memória.
Vamos ao teste.
“Professor, você se lembra de
algum “amigo secreto”, em algum dia do seu passado comeu “bolo abatumado”, viu
algum “beque abrir o açougue”, “levou algum trompaço no meio das aspas”, contou
alguma “atochada”, ficou “atucanado”, comeu como um “bagual”, namorou alguma “bagaceira”,
conheceu um “baita balaqueiro” e um “boi-corneta”, levou uma “bangornada” na
cabeça ou, pelo menos, levou uma “biaba”,morou em uma “biboca”, falou muita
“bobajada” e participou de um “bolo-vivo”?”
A maioria dos meus leitores
deve ter “boiado” completamente. Os mais jovens não devem ter entendido
“patavina”.
Para quem não entendeu coisa alguma e para provar quanto a minha
memória é boa, e quanto as minhas raízes porto-alegrenses estão vivas, vamos à
resposta do teste e às devidas explicações.
“Amigo secreto”, no sul, é aquela troca de presentes que, aqui no Rio, chamamos
“amigo oculto”. Por sinal, segundo o espírito da brincadeira o nome “amigo
secreto” me parece mais coerente. Um bolo “abatumado” é o mesmo que bolo
“solado”, ou seja, a massa fica pesada por falta de fermento em quantidade
adequada. Um “beque abre o açougue” quando um zagueiro do Grêmio começa a jogar
violentamente, dando pontapés ou “entradas” desleais nos atacantes colorados.
“Levar um trompaço nas aspas” é bater com a cabeça, mais precisamente com os
chifres. “Atochada” é uma mentira e “atucanado” é preocupado, aborrecido,
nervoso, talvez estressado. “Bagual” verdadeiramente é um cavalo arisco (não
castrado) e é, ainda hoje, usado para designar uma coisa boa, muito especial.
“Bagaceira” é uma coisa ou mulher desprezível, pobre, tida como baixa,
vagabunda. Um “baita balaqueiro” é um grande mentiroso, é aquele que “canta
muitas vantagens”, e “boi-corneta” é o sujeito do contra, o negativo, o
pessimista. Levar uma “bangornada” na cabeça é levar uma batida forte, um golpe
ou, como se diz popularmente hoje, uma “porrada”, que, por sua vez, vem de
porretada, golpe de porrete. Levar umas “biabas” é levar uns tapas. Morar numa
“biboca” é num lugar pequeno, numa vila ou cidadezinha distante, pobre e de
difícil acesso. “Bobajada” são besteiras, bobagens.
E, por fim, o “bolo-vivo”, que
merece uma descrição: dança ritual que se fazia nos aniversários de 15 anos das
meninas. Eram 15 pares em círculo, com velas acesas. No meio, a aniversariante
começava a dançar uma valsa com o pai. Depois, todos os casais também dançavam,
à medida que a aniversariante apagava a vela de cada casal. Se você achou um
pouco ridículo, não fale. Eu também sempre achei, mas alguns “bolos-vivos”
foram até interessantes…
O verbo REAVER
1. Eu REAVEJO ou REAVENHO ?
Nenhum dos dois.
O verbo REAVER é defectivo: no presente do indicativo, só há nós REAVEMOS e vós
REAVEIS; no presente do subjuntivo, nada; no pretérito e no futuro, segue o
verbo HAVER.
A solução é “eu estou reavendo” ou substituir por um sinônimo: “eu recupero”.
2. Eles REAVERAM ou REAVIRAM ?
É a “famosa” dúvida do nada com coisa alguma. Nenhum dos dois.
O certo é REOUVERAM, porque REAVER é derivado do verbo HAVER: ele houve – ele
REOUVE; nós houvemos – nós REOUVEMOS; eles houveram – eles REOUVERAM; se eu
houvesse – se eu REOUVESSE; quando ele houver – quando ele REOUVER.
Crase?
Leitor quer saber qual é a forma correta: “O horário da reunião é de 8 às ou as
17 horas”.
Nem uma coisa nem outra.
Escreva: “O horário da reunião é das 8h às 17h”.
Abreviaturas?
Dúvida de uma leitora: “Verifiquei que o senhor escreve 21h30. Qual é o
correto: 21h30min ou 21h30?”
Oficialmente é 21h30min, mas no jornalismo, por uma questão de espaço, prefiro
21h30.
Coisas da vida.
DESAFIO
Qual é a forma correta?
1) O ____________ (chipanzé ou chimpanzé) fugiu do circo.
2) Os _____________ (extratos ou estratos) sociais do Brasil
são menos injustos do que os da Índia.
3) O governo agiu com ______________ (descortino ou
descortínio) na solução da questão.
Respostas:
1. Tanto faz. O Vocabulário Ortográfico da ABL e o novo dicionário Aurélio
registram as duas formas: chimpanzé e chipanzé (como forma variante).
2. ESTRATO. “Estratos sociais” são “camadas sociais”.
3. DESCORTINO. “Descortino” vem de “descortinar”, que significa “tirar a
cortina”, “avistar, descobrir, antever”.
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h : �� � ckground:white;orphans: auto;widows: auto;-webkit-text-size-adjust: auto;
-webkit-text-stroke-width: 0px;word-spacing:0px'>Os trabalhadores se reuniram,
discutiram, e decidiram como agir.
Chegou, e viu, e lutou, e
venceu finalmente.
d) – O conectivo “e”, em fim de
enumeração, tem o valor de terminalidade:
Foram chamados vários
funcionários: João Carlos, Pedro Sousa, Luísa e Cláudio Luís. (=Chamaram só
estes quatro);
Foram chamados vários
funcionários :João Carlos, Pedro Sousa, Luísa, Cláudio Luís.(=Estes são quatro
dos que foram chamados. Pode haver mais)
- Não se usa a vírgula antes do
conectivo “ou” (conjunção alternativa):
Não sei se ele trabalha ou estuda.
Uso da VÍRGULA – Parte 2
3ª.- A vírgula deve ser usada
antes das conjunções ADVERSATIVAS (mas, porém, contudo, todavia, entretanto, no
entanto) e CONCLUSIVAS (logo, portanto, por isso, por conseguinte, então): “Ele
sempre se dedicou à empresa, porém nunca foi promovido.” “Ele sempre se dedicou
à empresa, por isso será promovido.”
Observações:
a) – As conjunções ADVERSATIVAS
e CONCLUSIVAS, quando deslocadas, devem ficar entre vírgulas: “Ele sempre se
dedicou à empresa, nunca foi, porém, promovido.” “Ele sempre se dedicou à
empresa, será, portanto, promovido.”
b) – A conjunção POIS, com o
valor CONCLUSIVO, deve ficar entre vírgulas: “Ele sempre se dedicou à empresa,
será, pois, promovido.” (= portanto)
c) – A conjunção POIS, com o
valor EXPLICATIVO ou CAUSAL, pode ou não vir antecedida de vírgula: “Ele deverá
ser promovido, pois se dedica à empresa.” (= porque)
Uso da VÍRGULA – Parte 3
4ª – A vírgula PODE ser usada
para separar a oração principal da subordinada adverbial (causal, concessiva,
condicional, final, temporal…): “Ele foi promovido, porque sempre se dedicou à
empresa.”(causal); “Ele foi promovido, embora não se dedicasse muito à
empresa.”(concessiva); “Eles só será promovido, caso se dedique mais à
empresa.”(condicional); “Ele desenvolveu o projeto, conforme nós orientamos.”(conformativa);
“Ele tem se dedicado muito, para que possa ser promovido.”(final); “Ele só
assinará o contrato, quando receber toda a documentação.”(temporal).
Observações:
a) – A vírgula DEVE ser usada
quando a oração adverbial estiver deslocada: “Embora não se dedicasse à
empresa, ele foi promovido.” “Solicitamos, caso seja possível, o seu
comparecimento a este setor.” “Conforme nos foi solicitado, estamos enviando
todos os documentos.” “Os computadores, quando foram introduzidos na empresa,
trouxeram várias consequências.”
b) – A vírgula DEVE ser usada
quando a oração reduzida* estiver deslocada:
“Encerrado o prazo, adotamos
novas medidas.” (reduzida de particípio); “Os representantes, gritando muito,
encerraram a reunião.” (reduzida de gerúndio); “Ao reduzir o déficit, pudemos
pensar em desenvolvimento.” (reduzida de infinitivo).
* Oração reduzida não
apresenta conectivo e o verbo aparece nas formas nominais: infinitivo, gerúndio
ou particípio.
s:6 � o w ^ �� to;-webkit-text-size-adjust: auto;
-webkit-text-stroke-width: 0px;word-spacing:0px'>Resposta:
Há um erro de concordância. O adjetivo “público” se refere aos
“princípios” e à “filosofia de vida”. Deve, por isso, concordar no masculino
plural: “…tornar públicos os seus princípios e a sua filosofia
de vida”.
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