Carta de um leitor indignado: “Não entendo
por que o senhor não responde às minhas dúvidas. O que eu quero saber é se está
certo ou errado.”
Carta de um leitor interessado:
“Gostaria de entender melhor o conceito de adequação. Muitos professores já me
disseram que a história do certo e do errado está ultrapassada, mas eu não
entendi direito.”
Carta de um leitor irado:
“Professor, se o senhor não sabe dizer se está certo ou errado, diga logo. Não
fique enrolando. Vá estudar mais.”
Como todos podem constatar, escrever em um portal como o G1 não é fácil. A exposição aos
diferentes tipos de leitores provoca as mais variadas reações. É muito difícil
agradar a todos. Todos nós, falantes da língua portuguesa, trazemos uma opinião
formada sobre o assunto. A verdade é que todos nós, gostando ou não gostando,
passamos anos e anos na escola, e, bem ou mal, usamos diariamente a língua
portuguesa. Por tudo isso, temos a tendência a nos rebelar sempre que vemos ou
ouvimos alguma coisa que vá contra o que um dia aprendemos como certo.
É importante lembrarmos que a
normatização da linguagem corresponde, em geral, ao jogo do certo ou errado.
Assim sendo, a norma é a regra daquilo que pode ou não ser usado na língua oral
ou escrita. O perigo é transformar o conhecimento destas regras num mecanismo
para discriminar os que não as dominam.
A norma é a marca do chamado padrão culto da língua, que é
apenas uma das variantes linguísticas. O professor André Valente, em A
linguagem nossa de cada dia, afirma: “Não há, em essência, variante
linguística que seja superior a outras. Existe, sim, a que tem mais força e
prestígio, a variante dos detentores do poder: da elite (econômica, política ou
intelectual).”
Quanto aos gramáticos, é sempre
bom lembrar que não há uniformidade de pensamento. Eles próprios não estão de
acordo sobre o que significa correção na língua falada ou escrita. Há dois
extremos perigosos: o conservador, que toma como padrão os textos considerados
clássicos da nossa literatura, e o anárquico, que aceita tudo, que considera a
língua um organismo que se desenvolve com total liberdade, abandonando
completamente o conceito do certo ou do errado.
Entre o conservador e o
anárquico, está o moderado. Eu, por exemplo. E como é difícil ser moderado!
Ser moderado é respeitar a
tradição gramatical, quando há consenso entre os estudiosos, e estar com a
mente aberta para as novidades, para os novos conceitos. Se a língua é viva,
ela evolui, ela se transforma. Radicalizar é perigoso. E é impossível
“engessar” qualquer língua.
Sou defensor do conceito da
“aceitabilidade”, mas tenho total consciência de que é muito difícil
estabelecer o que é obrigatório, o que é facultativo, o que é inapropriado, o
que é grosseiro, o que é inadmissível…
Vamos ver um exemplo. Na minha opinião, o uso da expressão “a
gente”, em vez do pronome “nós” é aceitável em qualquer texto coloquial. Na
sentença de um juiz, em que a sociedade exige uma linguagem formal, a chamada
linguagem “culta ou padrão”, o uso de “a gente” seria inapropriado, inadequado.
Tão inadequado quanto eu dizer “ela esteve aqui conosco”
num bate-papo informal na beira da praia. Como já disse outras vezes, “conosco”
na beira da praia mais parece nome de biscoito: “Dá um conosquinho aí”.
Sei muito bem que o assunto é
polêmico e que não se esgota com facilidade.
SÔGROS ou SÓGROS?
Carta de leitor: “Na sua coluna foi dito que certas palavras
sofrem metafonia quando vão para o plural, tendo-se dado exemplos fogo, porco e sogro. Ora, segundo os
gramáticos, o plural de sogro NÃO sofre metafonia. É uma exceção.”
Meu caro leitor tem alguma razão. Segundo a gramática do
professor Evanildo Bechara e a do professor Rocha Lima, a palavra sogro não sofre metafonia no plural, ou
seja, a vogal “o” mantém o som fechado (=“sôgros”).
Agora, veja o que dizem os professores Celso Cunha e Lindley
Cintra na Nova Gramática do Português
Contemporâneo: “Por vezes diverge, na formação desses plurais, a
norma culta de Portugal e a do Brasil. É o caso, por exemplo, dos substantivos almoço, bolso e sogro, que, no plural,
apresentam a vogal aberta em Portugal e fechada no Brasil.”
É como eu vivo repetindo: não é
uma questão de certo ou errado, e sim de adequação. Na fala lusitana, a vogal é
aberta (=”sógros”); no Brasil, falamos “sôgros”. Devemos é respeitar as
variantes linguísticas.
O DESAFIO
Qual é a forma correta?
1º) alejado ou aleijado?
2º) bandeja ou bandeija?
3º) colisão ou colizão?
4º) coalisão ou coalizão?
Respostas: aleijado, bandeja, colisão e coalizão.
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