A minha dívida com os leitores está tão
grande que está se tornando “impagável”. Preciso responder urgentemente a
algumas “acusações”. Em razão disso, o nosso caso de hoje será um imenso mea
culpa.
1ª) “Que eu saiba, o pretérito mais-que-perfeito do verbo dizer
é dissera. Tinha dito é particípio passado. Tô certo ou tô
errado?”
Meu caro leitor, você “tá mais
ou menos certo e mais ou menos errado”.
Quanto à forma do mais-que-perfeito do verbo DIZER, você está
certíssimo. O problema é que você se esqueceu da forma composta, ou seja, dissera é a forma simples do mais-que-perfeito
do indicativo, e tinha dito é a forma composta. Assim sendo, nós
temos duas opções: fizera ou tinha feito; saíra ou tinha saído; pusera ou tinha
posto; viera ou tinha vindo…
2ª) Gostaria de saber a razão
pela qual sempre se usa “No domingo que vem, TEM mais”, em vez de “No domingo
que vem, HÁ mais”.
Eu já expliquei aqui o porquê
da preferência pelo verbo TER. Mas vale a pena repetir.
Sei perfeitamente que, segundo
o padrão culto da língua portuguesa, devemos evitar o uso do verbo TER com o
sentido de “haver, existir”. Entretanto, como já foi explicado, para se
despedir, muitos optam por uma linguagem mais coloquial, com um tom mais
familiar. Só isso.
3ª) “Concordo com as regras dos chamados pecados
mortais da crase do
professor Édison de Oliveira “em regra”. A exceção que confirma uma delas é o
caso em que há uma palavra ou expressão oculta. Por exemplo: Filé à (moda)
Oswaldo Aranha – ou seria “churrasco”?”
O nosso leitor tem razão. Como
bom gaúcho, deve ser churrasco mesmo. Quanto aos “pecados mortais”, é
importante lembrar que são apenas “dicas”. Quando afirmamos que não ocorre a
crase antes de palavras masculinas, é apenas para facilitar um pouco a vida
daqueles que consideram a crase a “coisa mais difícil da língua portuguesa”. O
caso do “churrasco à Oswaldo Aranha” não é propriamente uma exceção, e sim uma
outra situação.
E o nosso leitor também tem
razão quando afirma que devemos usar o acento grave indicativo da crase sempre
que houver a palavra “moda (ou estilo) subentendida: “filé à milanesa”,
“vestir-se à 1970”, “escrever à Camões”…
4ª) Leitor: “A confusão
continua. O senhor insiste em chamar acento grave de crase. Por favor, pare com
isso.”
Tecnicamente, o nosso leitor
está certíssimo. O acento (`) chama-se grave, e crase é o fenômeno fonético em
que ocorre a fusão de duas vogais iguais (a+a=à). Assim sendo, não devemos dizer
que o “à” está craseado. O certo é dizer que a vogal “a” recebeu o acento grave
(`) para indicar que ocorre uma crase (=fusão da preposição “a” com outro “a”).
Tenho a certeza de que, com
essa explicação, ninguém mais vai continuar fazendo confusão. Agora o uso do
acento grave indicativo da crase ficou “bem mais fácil” de ser entendido…
5ª) Saiu nesta coluna: “em textos que exijam uma linguagem
formal, devemos evitar o uso da expressão em anexo”.
Os leitores têm razão: é uma
questão de estilo. Eu prefiro a forma “anexo” a “em anexo”. Só isso. É lógico
que o uso de “em anexo” também está correto. Não afirmei que estava errado.
Apenas afirmei que prefiro: “O formulário segue ANEXO a EM ANEXO”.
Se alguém preferir fazer outra consulta, a Moderna
Gramática Portuguesa do
meu querido mestre Evanildo Bechara também registra as duas formas.
“Levar ele” ou “Levá-lo”?
Pergunta de um leitor: “Gostaria de saber se o que saiu
publicado numa revista é considerado aceitável ou se está errado mas passou
batido: ‘Não deu para comprar um presentinho? Bobagem, leva
ela para passear a assistir
uma pelada no Sol
Ipanema, tomar um chope’. Que tal?”
O que explica, mas não
justifica, o desrespeito às regras gramaticais é o fato de o texto apresentar
um tom coloquial.
A norma padrão ainda condena o
uso do pronome reto (ele, ela) na função do objeto e a regência do verbo
assistir (=ver, presenciar) como transitivo direto.
Em textos formais, que exijam o
padrão culto da língua portuguesa, devemos usar:
LEVÁ-LO, em vez de “levar ele”;
(Os pronomes pessoais oblíquos
“o, a, os, as” devem ser usados na função de objeto);
ASSISTIR A uma pelada, em vez
de “assistir uma pelada”.
(O verbo ASSISTIR, no sentido
de “ver, presenciar”, é transitivo indireto).
MORTO ou FALECIDO?
Comentário de um leitor: “Toda vez que nossos jornais fazem
alusão a pessoas já falecidas, é assim noticiado: ‘Darci Ribeiro, morto no ano tal…’ Parece que o ilustre
antropólogo foi morto por alguém, que sua morte não foi decorrente de causas
naturais.”
Concordo com o nosso leitor. Embora morto e falecido sejam palavras sinônimas, o uso da
forma “morto” pode causar ambiguidade. Nesses casos, prefiro a forma falecido,
embora não seja usual no meio jornalístico.
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