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segunda-feira, 8 de abril de 2013

Saiba quando usar o hífen para separar palavras iniciadas com ‘mini’


De tempo em tempo, sou obrigado a voltar ao assunto. É humanamente impossível responder a todas as perguntas que são enviadas para esta coluna. O interesse dos meus leitores me deixa felicíssimo, mas, ao mesmo tempo, fico muito chateado por não poder atender a todos.
Como já disse aqui, são mais de 100 perguntas por mês. É importante lembrar que o G1 não está oferecendo um serviço de “tira-dúvidas” pela internet, como alguns leitores imaginam. Para nós, as dúvidas são contribuições para esta coluna. A seleção é feita obedecendo a alguns critérios. O primeiro, obviamente, é que eu saiba responder ou, pelo menos, tenha uma opinião a respeito. Também damos preferência a perguntas de interesse mais amplo. Perguntas muito específicas geralmente ficam “na reserva”. Outro critério é o da “repetição”. É aquela pergunta que volta com certa frequência.
Para “aplacar a ira” de alguns leitores, selecionei para hoje algumas perguntas que me permitiram respostas curtas. Estão de volta as “rapidinhas”:
1a) “Devemos mesmo escrever todas as palavras com o “mini” incorporado à palavra ou separado sem hífen ou com hífen?”
Segundo o novo acordo ortográfico, só há hífen quando MINI antecede palavras iniciadas por H ou vogal igual (i): mini-hospital, mini-internato…
Nos demais casos, o elemento “mini” deve ser usado sempre “junto”, sem hífen: minissaia, minissérie, miniusina, minirreator, minidesvalorização, minibar, minienvelopes, minipãezinhos…
2a) “Noventa por cento do paisagismo, desenhado por Roberto Burle Marx, já foi restaurado. O correto não seria já foram restaurados?”
A concordância com as percentagens é um tema bastante polêmico. Há quem prefira a concordância com o número percentual: “Noventa por cento do paisagismo foram restaurados”; e aqueles que preferem a concordância com o especificador: “Noventa por cento do paisagismo foi restaurado”. Não é, portanto, uma questão de certo ou errado. É uma questão mais de estilo ou preferência. A minha constatação é que hoje há uma visível preferência pela concordância com o especificador: “Sessenta por cento da população já foi vacinada”, “Um por cento das crianças foram vacinadas”.
3a) “Está certo dizer ‘tenho soltado todos os pássaros engaiolados que encontro’ e ‘o delegado havia soltado ontem esse ladrão’?”  
Está corretíssimo. Para os verbos que apresentam particípios abundantes (=solto e soltado, aceito e aceitado, entregue e entregado, suspenso e suspendido…), devemos adotar a seguinte regra: a) com os verbos ter e haver, devemos usar a forma regular terminada em “-ado” ou “-ido”: “tinha ou havia soltado os pássaros”, “havia aceitado o convite”, “tinha entregado os documentos”, “tinha ou havia suspendido os jogadores”… b) com os verbos ser ou estar, devemos usar a forma irregular: “os pássaros foram soltos”, “o convite foi aceito”, “os documentosserão entregues”, “os jogadores estavam suspensos”…
4a) “Já vi escrito num livro de português adeqúo e argúo. Acredito na existência dessas formas, pois, em certas situações, não há outra opção.”
Rigorosamente, o verbo adequar é defectivo, ou seja, não apresenta algumas formas. Para a maioria dos estudiosos não existe a forma “adeqúo”. A solução é substituir por um verbo sinônimo ou expressão equivalente: em vez de “eu me adeqúo à atual situação”, poderia ser “eu já estou adequado à atual situação” ou “estou me adequando à atual situação”.
O verbo arguir não é defectivo. A 1ª pessoa do singular do presente do indicativo é “eu arguo”. O detalhe é que não há acento agudo na vogal “u”, embora a sílaba tônica seja a penúltima (=”gu”). Devemos pronunciar “arguo”.

PÊGO, PEGO ou PEGADO?
Dúvida do leitor: “Na minha juventude nunca ouvi alguém falar que “foi pêgo”. Agora, a TV (Rio e São Paulo passam o tempo falando essa asneira. Até o jornal que se acha o melhor do país, que é a F. São Paulo, caiu nessa). Sob a minha óptica, respaldado no Caldas Aulete e no Delta Larouse, pêgo é uma ave. Para mim, o Aurélio é um dicionário popular da língua portuguesa. É bom tê-lo para tirar dúvidas, mas com visão crítica.”
Meu caro leitor, eu também aprendi na minha juventude que o particípio do verbo pegar era somente pegado: “Ele tinha pegado os documentos”, “Ele foi pegado em flagrante”.
O problema é que as línguas são vivas, elas evoluem, elas se transformam. E isso não é um fenômeno exclusivo da língua portuguesa. O difícil é estabelecer um critério para aceitar ou não as novidades linguísticas.
Entretanto é fato que a forma pego (“pêgo” em algumas regiões e “pégo” em outras) está consagradíssima. Hoje há registros em várias obras da nossa literatura e nos estudos de muitos especialistas.
Sugiro que você, meu caro leitor, não sofra tanto, senão terá que procurar algum cardiologista. Que fique bem claro: se usarmos a forma pegado, estamos falando corretamente. Quanto à formapego, é perfeitamente aceitável na fala coloquial e discutível em textos que exijam o chamado padrão culto da nossa língua. Inaceitável é exigir que o candidato ao vestibular, por exemplo, saiba se o gramático Fulano de Tal considera  a forma pego “certa” ou “errada”.

POR QUE ou POR QUÊ?
Pergunta de leitor: “Reforma Agrária, por que? ou Reforma Agrária, por quê?”
Segundo as nossas regras ortográficas, a palavra que, no fim da frase, interrogativa ou não, torna-se tônica. Daí a necessidade do acento circunflexo: “Reforma Agrária, por quê?”

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