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segunda-feira, 8 de abril de 2013

O ‘certo’ e o ‘errado’ andam lado a lado na língua portuguesa


Carta de um leitor indignado: “Não entendo por que o senhor não responde às minhas dúvidas. O que eu quero saber é se está certo ou errado.”
Carta de um leitor interessado: “Gostaria de entender melhor o conceito de adequação. Muitos professores já me disseram que a história do certo e do errado está ultrapassada, mas eu não entendi direito.”
Carta de um leitor irado: “Professor, se o senhor não sabe dizer se está certo ou errado, diga logo. Não fique enrolando. Vá estudar mais.”
Como todos podem constatar, escrever em um portal como o G1 não é fácil. A exposição aos diferentes tipos de leitores provoca as mais variadas reações. É muito difícil agradar a todos. Todos nós, falantes da língua portuguesa, trazemos uma opinião formada sobre o assunto. A verdade é que todos nós, gostando ou não gostando, passamos anos e anos na escola, e, bem ou mal, usamos diariamente a língua portuguesa. Por tudo isso, temos a tendência a nos rebelar sempre que vemos ou ouvimos alguma coisa que vá contra o que um dia aprendemos como certo.
É importante lembrarmos que a normatização da linguagem corresponde, em geral, ao jogo do certo ou errado. Assim sendo, a norma é a regra daquilo que pode ou não ser usado na língua oral ou escrita. O perigo é transformar o conhecimento destas regras num mecanismo para discriminar os que não as dominam.
A norma é a marca do chamado padrão culto da língua, que é apenas uma das variantes linguísticas. O professor André Valente, em A linguagem nossa de cada dia, afirma: “Não há, em essência, variante linguística que seja superior a outras. Existe, sim, a que tem mais força e prestígio, a variante dos detentores do poder: da elite (econômica, política ou intelectual).”
Quanto aos gramáticos, é sempre bom lembrar que não há uniformidade de pensamento. Eles próprios não estão de acordo sobre o que significa correção na língua falada ou escrita. Há dois extremos perigosos: o conservador, que toma como padrão os textos considerados clássicos da nossa literatura, e o anárquico, que aceita tudo, que considera a língua um organismo que se desenvolve com total liberdade, abandonando completamente o conceito do certo ou do errado.
Entre o conservador e o anárquico, está o moderado. Eu, por exemplo. E como é difícil ser moderado!
Ser moderado é respeitar a tradição gramatical, quando há consenso entre os estudiosos, e estar com a mente aberta para as novidades, para os novos conceitos. Se a língua é viva, ela evolui, ela se transforma. Radicalizar é perigoso. E é impossível “engessar” qualquer língua.
Sou defensor do conceito da “aceitabilidade”, mas tenho total consciência de que é muito difícil estabelecer o que é obrigatório, o que é facultativo, o que é inapropriado, o que é grosseiro, o que é inadmissível…
Vamos ver um exemplo. Na minha opinião, o uso da expressão “a gente”, em vez do pronome “nós” é aceitável em qualquer texto coloquial. Na sentença de um juiz, em que a sociedade exige uma linguagem formal, a chamada linguagem “culta ou padrão”, o uso de “a gente” seria inapropriado, inadequado. Tão inadequado quanto eu dizer “ela esteve aqui conosco” num bate-papo informal na beira da praia. Como já disse outras vezes, “conosco” na beira da praia mais parece nome de biscoito: “Dá um conosquinho aí”.
Sei muito bem que o assunto é polêmico e que não se esgota com facilidade.

SÔGROS ou SÓGROS?
Carta de leitor: “Na sua coluna foi dito que certas palavras sofrem metafonia quando vão para o plural, tendo-se dado exemplos fogo, porco e sogro. Ora, segundo os gramáticos, o plural de sogro NÃO sofre metafonia. É uma exceção.”
Meu caro leitor tem alguma razão. Segundo a gramática do professor Evanildo Bechara e a do professor Rocha Lima, a palavra sogro não sofre metafonia no plural, ou seja, a vogal “o” mantém o som fechado (=“sôgros”).
Agora, veja o que dizem os professores Celso Cunha e Lindley Cintra na Nova Gramática do Português Contemporâneo: “Por vezes diverge, na formação desses plurais, a norma culta de Portugal e a do Brasil. É o caso, por exemplo, dos substantivos almoço, bolso e sogro, que, no plural, apresentam a vogal aberta em Portugal e fechada no Brasil.”
É como eu vivo repetindo: não é uma questão de certo ou errado, e sim de adequação. Na fala lusitana, a vogal é aberta (=”sógros”); no Brasil, falamos “sôgros”. Devemos é respeitar as variantes linguísticas.

O DESAFIO
Qual é a forma correta?

1º) alejado ou aleijado?
2º) bandeja ou bandeija?
3º) colisão ou colizão?
4º) coalisão ou coalizão?


Respostas: aleijado, bandeja, colisão e coalizão.

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