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segunda-feira, 8 de abril de 2013

Dúvidas dos leitores


AMERICANO ou NORTE-AMERICANO?
Pelo visto, há muitos leitores indignados.
Todos contestam a minha preferência por americano. Afirmei aqui: “A seleção americana de basquete é a dos Estados Unidos. Uma seleção norte-americana deveria incluir jogadores do Canadá e do México”.
Você sabe por que quem nasce em Pernambuco é pernambucano, e não “pernambuquense”. Por que quem nasce no Ceará é cearense, e não “cearano”?
O que eu sei é que existem várias sufixos (-ano, -ense, -eiro, -ista, -ino…) para designar o lugar de nascimento.
Paulista é quem nasce no estado de São Paulo, e paulistano é quem nasce na cidade de São Paulo.
Seria convenção? Foi o uso que consagrou?
A República Federativa do Brasil já foi “Estados Unidos do Brasil”. Quem aqui nasce sempre foi brasileiro. Nunca fomos “estadunidenses”.
Quem nasce nos Estados Unidos da América (USA=United State of America) pode ser estadunidense ou americano ou norte-americano. Isso é o que dizem vários dicionários.
O adjetivo estadunidense na prática não funciona. As duas formas mais usadas são americano e norte-americano. Entre essas duas, prefiro americano.
Para mim, “norte-americano corresponde ao nosso sul-americano”. Sei muito bem que americano também se refere à América inteira. Entretanto, creio que não haveria confusão:
a) Se falarmos em “senado americano”, só pode ser o dos Estados Unidos. Ninguém ficaria imaginando um senado da América;
b) Se falarmos em “continente americano”, tenho a certeza de que todos entenderiam a América, e não os Estados Unidos.
No entanto, quando nos referimos a um campeonato, devemos tomar certos cuidados:
a) Campeonato sul-americano (=só América do Sul);
b) Campeonato norte-americano (=só América do Norte);
c) Campeonato americano (=só Estados Unidos);
d) Campeonato pan-americano (=as três Américas).
Eu entendo perfeitamente os argumentos dos meus leitores e agradeço a contribuição.
É importante, porém, que fique bem claro: não estou afirmando que estadunidense ou norte-americano estejam errados. É uma questão de preferência, pois no meio jornalístico é comum haver uma espécie de padronização. Não quero impor coisa alguma, apenas opinar.

ESCREVE-SE ou ESCREVEM-SE cartas?
Leitor tem razão ao afirmar que esse tipo de erro de concordância é frequente e que, num contexto popular, seria aceitável. Na verdade, ele critica a inadequação: o fato de uma professora ter cometido tal erro.
Estamos chamando de erro porque está em desacordo com o que diz a maioria dos nossos gramáticos. Quando a partícula “se” é apassivadora, o verbo deve concordar com o sujeito passivo: “Escrevem-se cartas” (=Cartas são escritas); “Alugam-se apartamentos” (=Apartamentos são alugados); “Consertam-se sapatos e bolsas” (=Sapatos e bolsas são consertados)…
Em textos formais e em concursos, é essa a concordância que devemos seguir.

Hoje É ou SÃO 26 de junho?
Leitores querem saber qual é o certo.
Um deles pergunta: “No caso a palavra hoje não é o sujeito da oração? O verbo não deveria concordar com o sujeito no singular: Hoje é 26 de junho? E na pergunta? O correto é que dia é hoje? Ou que dia são hoje?”
Na pergunta, não há discussão. Sempre devemos usar o verbo ser no singular: “Que dia é hoje?”
Quanto à resposta, há polêmica. Alguns autores defendem a tese de que o verbo ser deva concordar com a expressão numérica. Da mesma forma que “são 16h”, deveríamos usar “Hoje são 26 de junho”. A verdade, entretanto, é que poucos falam desse modo. A maioria diz que “Hoje é 26 de junho”. O uso do verbo no singular está consagrado e muitos autores já registram tal concordância. A explicação para a concordância no singular seria a elipse da palavra DIA: “Hoje é (dia) 26 de junho”.
Se você quer evitar a polêmica, basta dizer que “Hoje é dia 26 de junho”. Aí…não há discussão.

O saldo do acidente FOI ou FORAM duas vítimas?
Leitor quer saber se o verbo não deveria estar no singular para concordar com o sujeito: “O saldo do acidente foi…”
O verbo SER sempre merece cuidados especiais, pois, em algumas situações, pode concordar com o predicativo do sujeito. No exemplo acima, o sujeito (=o saldo do acidente) está no singular, e o predicativo (=duas vítimas) está no plural. Entre o singular e o plural, o verbo ser concorda no plural:
Estes dados são parte de um relatório confidencial.”
“O resultado da pesquisa são números assustadores.”
Portanto, a concordância da frase: “O saldo do acidente foram duas vítimas” está correta.
O que mais me incomoda nessa frase é a mania de tratar vítimas de acidente como “saldo”. Na minha opinião, é um modismo de imenso mau gosto.

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